domingo, 8 de julho de 2012

Amor novobaiano

para ler ouvindo "a menina dança"...

Você, meu amor novobaiano,
Daquele tipo que pede morada num campo grande
Onde ter regra é a não-regra,
Onde o plano é o não ter plano.

Que é menina que dança e avança
Vivendo de música agitada
Da primeira cerveja no bar
Até a fuga no fim da madrugada.

Amor enlaricado,
Com fome de mais vontade.
Que tem no tempo perdido a desculpa
Pra saciar a sede da fúria da saudade.

Você, meu amor pra sempre,
Que quanto menos me pede, mais é minha sina.
Porque, como tudo que é novobaiano,
Não cessa, não míngua e não resvala.

E não acaba.
Nem quando termina.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O menino que morava no umbigo

Para João e Sofia

Era uma vez um menino
Que morava no próprio umbigo.
Brincava na vila, brincava na escola,
E tinha um monte de amigo.

Ele era, meio assim, peregrino.
Não tinha uma casa de fato.
Mochila prum lado e pro outro:
Seu umbigo, na verdade, eram quatro.

Um, da mãe Mariposa,
Outro, do pai Zé Barbudo.
Na quinta, era Vó Violeta,
Na sexta, era Vô Carrancudo.

E onde estivesse o menino,
Fosse domingo a domingo,
O mundo a sua volta girava,
E o ciúme sempre dormindo.

Até que um dia [surpresa!]
A coisa toda ficou diferente:
Tudo mudou no pedido
Que fez pra fada do dente.

O menino penou, e pediu:
- Fada, Fadoca, Fadinha!
Não quero um videogueime,
Quero é uma irmãzinha!

De pirata, ficou pensativo.
Serpentina deixou pra depois,
Quando ouviu o Zé Barbudo falando
Que o quarto dava pra dois.

E achou tudo muito esquisito,
Pois conversando no tal telefone,
Sua boadrasta Borboleta dizia
Que não tinha escolhido o nome.

Bem estava esperando presente,
Plantado, ficou no quintal,
Mas era primeiro de abril
A história do tal pré-natal.

Domingo, passeio no sítio:
Bola, estrela, piscina.
O Vô carrancudo dançava
E cantava que era menina.

O inverno tinha chegado,
E o menino estava pra briga:
O que tanto a Borboleta conversa
Falando com a própria barriga?

O frio ficou mais maldoso,
E o menino no quarto encolhido.
Enrolado na coberta, pensava:
- Estou correndo perigo.

No desgosto, o menino a crescer.
Calado, seu umbigo sofria.
Quando era forçado a dizer:
- Ela engoliu foi uma melancia!

As flores chegaram sorrindo,
E o menino, olhar curioso.
O silêncio da casa guardava
O que a fada trouxe de novo.

Menor que o menor pensamento,
O menino amou e ficou
Babando a borboletinha.
E, logo, do umbigo mudou.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Coragem

Escrever é um hi-ato de covardia.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Poema de Bula

Se o seu amor me tortura à chaga
E violento me conduz ao coma:
Cortizona.

Se o seu amor perdido não se orienta
Deficiente um tanto de qualquer nervo ótico:
Antibiótico.

Se o seu amor num altar me adora
E dele faz um glamouroso oratório:
Anti-inflamatório.

Se o seu amor não me prepara o espírito
E leva meu corpo indefeso para o abate:
Mertiolate.

Se seu amor não recua a légua
E se perde comigo no meio do mato:
Esparadrapo.

Se o seu amor teimoso não aceita
Qualquer outro ritmo diferente do meu coração:
águaesabão.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Assalto ao trem pagador

Não te quero
Nem menos, nem mais
Cônjuge ou esposa,
Noiva ou namorada.
Não te quero menos
Jacutinga ou Bacante.
Não pura e mais amante.

Vamos por fim a essa tola tradição.

Te quero mais muito
Sempre, e sem luto,
De hoje em diante,
E a partir de então.

Te quero vibrante,
Sem medo e sem farsa,
Assaltando o mundo,
Ó, minha comparsa!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sambaqui

Você cavou, nem fez esforço,
Achou um sambaqui em mim.
E misturou o pó cinza do meu corpo
Com seu pó roxo de pirlimpimpim.

Escovou meus medos,
Encontrou meus segredos,
Tocou memória
E me amou sem dó.
Desvelou as pistas do meu antemeio
E cultuou o que tenho de melhor.

(E de pior)

E juntou os cacos.
E me restaurou ferido.
Fez do seu ventre um lugarmuseu.

E me deu vida,
Divulgou meus rastros
Sendo a casa do meu novo eu.

(Que é seu)

sábado, 22 de maio de 2010

Poema de isopor

Sua prega, seu tchau me acega,
Você que ensaia,
Mas eu é que vou.

E eu, que moro na hora,
Te espero de agora
No meu isopor.

Canastra, eu pago à mesa,
Te devo cerveja,
Na mão um curinga.

Te amarro, te faço trabalho
Te espero, marcado,
Da sua curimba.