quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A morte de BlauBlau

Meu amor foi dormir às cinco e prolongou o sono pela manhã inteira. E eu arrumei a casa, botei a carne na brasa, pois não estou de bobeira. Ao despertar, lhe dei a má notícia, fato credo com o qual ela não sonhou. Maria Sylvia, você tem que ser forte: no silêncio da madrugada, sem deixar testamento ou carta chorada, seu ursinho BlauBlau se pendurou num cadarço de tênis e, deprimido, foi lá e se matou!

domingo, 8 de novembro de 2009

Tamojunto

No bafo do meu quartoforno
Minha letra já está calada.
A fita crepe que lhe emudece
É a cana da madrugada.

E a insônia que nos excita
É putaria de tanta lisura.
É a vontade que nos liberta
Do resto pouco de ditadura.

domingo, 1 de novembro de 2009

Vai bem? Vai a pé ou vai de trem?

por Chico Ollivetti

Como todos sabem, além de apicultor, torcedor fanático do São Cristóvão e jornalista nas horas vagas, também desempenho uma outra função: sou contínuo na Câmara de Vereadores do Município de Duque de Caxias na Baixada Fluminense. Aliás, poderia até dizer que esta é a minha primeira profissão, tendo em vista que as pensões responsáveis pelo sustento dos meus dois filhos e da minha ex-mulher, a piranha da Fátima (Josué e Sara, desculpem o papai, mas não deu...), são provenientes dos descontos em folha que recebo no contracheque desta minha ocupação. Pois bem...

Na semana retrasada, embarquei no Niterói-Caxias regressando ao meu querido e amado município após um dia de trabalho fatigante. Para quem acha que Caxias fica no c... do mundo, eu comunico: senhores, minha viagem de Caxias até o Terminal Rodoviário João Goulart levou nada mais do que 34 minutos. Por acaso, cronometrei. E assim que cheguei, encaminhei-me à plataforma C do Terminal pensando "Vou cronometrar agora o tempo de viagem do Centro de Niterói até minha casa". Adentrei no ônibus da viação Araçatuba, linha 47 (Centro – Vital Brazil). Dizem os especialistas em trânsito (no caso, cobradores e pilotos, pois mais especialistas que estes não há) que, em condições normais de trânsito, a viagem do Centro ao Vital Brazil não leva mais do que 15 minutos para ser concluída. Atenção, leitores! Eu disse 15 minutos. Pois bem... Peguei o dito cujo 47 às 20 horas e exatos 12 minutos e, pasmem, às 21 horas e 1 minuto estava eu descendo no ponto em frente a minha casa, que fica entre o Posto de Saúde Sérgio Arouca e o Clube Pioneiros. Foram 49 minutos, leitores!!! 49 minutos do Terminal Rodoviário até o ponto da minha casa. 34 minutos a mais do que numa viagem normal e 15 minutos a mais do que o trajeto Caxias-Niterói que, apesar de pegar a via seletiva, encara nada mais e nada menos do que a Rodovia Washington Luís, a Av. Brasil e a Ponte Presidente Costa e Silva. É o fim da picada!

Na semana passada, o prefeito Xorxinho e o ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner apresentaram uma nova proposta para melhorar nosso trânsito. E adivinhem qual é a espinha dorsal do plano? Aumentar o sistema de transporte através das vias marítimas! Não brinca? Por 100 mangos eu fazia esse projeto, pô! O plano do ex-prefeito curitibano prevê mais três ligações marítimas através das tradicionais barcas (Jurujuba-Ramos, Icaraí-Leblon e Barreto-Magé), um sistema de gôndola-táxi, inspirado nas gôndolas venezianas e nos mototáxis do Morro do Castro, um trem-bala ligando o Ponto Cem Réis à Caixa D'água e uma ciclovia ligando a UFF ao Rio do Ouro. Genial, não acham? Eu não sei de vocês, mas eu estou cheio dessas soluções mirabolantes para o trânsito da nossa cidade. E não é só o trânsito que me tira do sério. Anteontem mesmo fui assaltado em frente ao restaurante Lamole da praia de Icaraí. Por sorte, estava apenas com R$ 10 reais na carteira, um maço de cigarros e meu cachorro Cauby. Os marginais levaram os R$ 10 reais e os cigarros, mas, graças a Deus, deixaram o Cauby.

Enfim, leitores, escrevo tudo isso para protestar e dizer que, nas próximas eleições, só voto se for em mim mesmo ou se o candidato for realmente uma pessoa preparada e preocupada com o bem-estar da população. Já tenho alguém em mente. Estou trabalhando para convencer a Dona Zenaide, a querida Dona Zezé, síndica do tradicional edifício Moema, a enfrentar esse desafio. Ela é o perfil ideal para colocar novamente Niterói nos eixos. O nome dela é trabalho e ela tem aquilo roxo! Há tempos que nossa cidade está com um sorriso meio banguela. Se ela aceitar, já tenho até o slogan da campanha: Dona Zenaide é gente pura, Niterói precisa de uma dentadura! E vamo que vamo, Dona Zezé!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Peguei Pra Mim

Tu me desmontas, rainha das pontas!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Contentude Contentamento

Sra. Dona Pureza, olha só, me ouça faz favor: você não quis descer no ponto na hora que o ônibus parou? Pois bem, senhora dona, antítese da fórmula da pureza, que me rogou uma praga cheia de lesa gentileza. O que há em comum nos corpos é tudo aquilo que cresce no nada. Desde a fala que suplica água até o suor que lava a escada. É o receio de dançar na roda e a certeza de fabricar a sina. A dúvida de entrar na moda é o mergulho no colchão piscina. Reinventando dois personagens comuns e dando risada da estranheza de alguns. Portanto, Dona Pureza, ainda que você não seja alfabetizada numa língua que lhe dará uma rasteira e não descreva em códigos as suas antiquadas incertezas, eu vou lhe dar cola na prova. Isso, exatamente. Na de português e na de biologia. Mesmo você repetindo nãosei como quem diz boanoite pro vigia. Eu vou te sequestrar na meia noite de sexta e te devolver na segunda meio dia. Pra ver se você me compra de vez cretino e berre de forma mais discreta. Daí vai ganhar o título de perna mais bonita e pessoa mais esperta.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cambéqui

Gostar de você, moça sacana,
É bom, é fantástico, é legal, é bacana.
É agir como se todos os dias
Fossem dias de fim de semana.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Rolê Jovem

Estou há quarenta e sete anos tentando voltar pra minha casa. Foi num dia de sexta que eu sai e nunca mais voltei. Vício! Mas é tão bom que se eu voltar um dia só, vou achar que é desperdício...

sábado, 26 de setembro de 2009

E Agora, Creuza?

Mestre na arte de fazer a unha,
Dona de um torturador sapato alto,
Na cama que você me punha
Meu corpo se desfez num salto.

Gozadora na cara da maturidade,
Traz no sorriso uma música sacana.
Escorada no perímetro da saudade,
Já foi minha por mais de uma semana.

Eu te tenho uma coisa inédita:
Filme de drama misturado com comédia.
Eu te tenho novidade da ciência:
Descoberta arqueológica da minha consciência.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Derretendo Satélites

No meu espaçotempo bandido
Existem formas, fórmulas e identidades.
E eu me tenho e retenho contigo
Para desconstruir todas as meias verdades.

domingo, 20 de setembro de 2009

Esporro

Morro no colchão: ele me traga.
O lençol me afoga com seu dengo.
Vamos ficar três dias direto nessa praga
E vai tomar no cú, flamengo!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

De Humilde

Eu vou embora da festa.
E te mando mensagem no fone.
E te espero na minha modéstia.
E te insisto no tempo do homem.
E te aguardo pro dia seguinte.
E te águo na minha infância.
E te incho num cretino requinte.
E te desafogo com minha constância.

E te quero num tal desassossego.
E te exponho num grande cabilde.
E te rimo sem ter desapego
No meu verso cantado de humilde.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Da Arte de Sucumbir

Numa banca de jornal na frente da sua casa,
Mais ou menos na hora e na vez do sol,
Intimei o jornaleiro - porra! mermão, não me defasa!
São os acréscimos de um jogo de futebol.
E invadi o seu portão (cela de cadeia)
Pra te cruzar palavras com meu pretérito errante,
Pra te convencer que um dia a chama da vela desincendeia,
Pra te provar que já estava impresso o nadaserácomoantes.
E você, esperta, ocupando o tempo pra não ter que (ó!)culpar,
Subindo as escadas numa fuga (craque do besunto),
Inventando afazeres pra não ter que me encarar,
Mudando os planos pra poder mudar de assunto.
Desceu do particular formigando o que sentia,
Subiu no coletivo assassinando um unicórnio,
Derramou a combinação de palavras que eu queria
E tomou o lugar mais alto do meu pódio.
Forjada no forno que traz o amor antes do beijo,
Beleza rara da ordem do artesanal,
Testemunha-chave do nascimento do desejo,
É agora a minha única, a minha a, a minha tal.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pra quem me ama mesmo assim

Eu sou...
Eu sou amor...
Eu sou amor da cabeça aos pés...

Poema Cretino

Cretino sou eu de práxis,
Categoria que me desalinha,
Que me insere numa vã desordem
E me afunda na vasta boemia.

Cretino sou eu ainda
Quando enceno, narro, minto, invento.
Quando gasto minha tal palestra
No rastro do seu movimento.

Mais cretino que eu, contudo,
É o ar vadio que a mim sustenta.
Porque quando você me encosta,
Ele quase que me arrebenta!

Amadurecer

Amadurecer.
Amar e endurecer.
Transformar em coisas que eu amo,
As coisas que eu tenho que fazer.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Estrago

Mestre magro cabuloso, guardião dos comprimidos,
Saia do seu sono pra que eu possa ter contigo:
Possuo, ao avesso, uma nova pra tramar,
Cuspa seu oráculo pra que eu possa derramar.

Cabuloso magro mestre, guardião dos comprimidos,
Atenção à minha carta recheada de pedidos:
Dê-me um feitiço com três vidas, oidemorôparabalar,
Na primeira eu ensaio, na outra vou representar.

Magro mestre cabuloso, guardião dos comprimidos,
Arremeta longe a pedra fundamental dos meus sentidos:
Na terceira vida breve, antes da luz se apagar,
Eu vou jogar no ventilador e vou botar pra estragar!

sábado, 5 de setembro de 2009

Farinha de Rosca

Quando meu epitélio virar capa de chuva de micróbio, e meu quadríceps descer ladeira sem freio, e meu ílio não sustentar mais minha dança tosca, e meu humorvítreo não definir nem o contraste das neutras cores, e qualquer córtex não responder ao mais premente anseio, e a veia cava superior não cuspir mais o que se bebe, e minha matéria virar farinha grossa de rosca, e o mundo rodar ao sol cinza com a lua beje, e o som que de mim reverbera calar-se surdo perdido na terra ou no calor do fogo. Quando o fim do dia lhe brotar o sono e o cinema do seu inconsciente projetar uma angústia breve. Leve e releve, porque em sua lágrima vai se afogar a minha. Comece tudo do zero, porque na sua vontade ficará a minha. Comece tudo de novo, porque na sua teimosia sucumbirá a minha. Comece tudo do nada, porque na sua vida morrerá a minha.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Questão de Ordem

Toda vez que te escrevo
Me encanto.
E te canto
Toda vez que me inscrevo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Conxilo

Ela está com sono.
Já come tritongos, ditongos, vogais.
E eu já não durmo sem ela.
Sem ela já não vivo mais.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Discurso

Se aquilo que o espírito sentir
O olho não declarar
E, se por consequência ou displiscência,
O corpo não traduzir,
Ácida ou plácida,
Gritada ou tatuada,
Em estado terminal ou grávida,
A morfologia de qualquer palavra
Virá muda e pálida.
E virá só para confundir.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Porra, Nietzsche!

Se eu parar para escrever tudo que penso,
E pensar para parar tudo que escrevo,
E escrever para pensar tudo que paro.
Ou se parar para pensar tudo que escrevo,
Ou pensar para escrever tudo que paro,
Ou escrever para parar tudo que penso

Não vou chegar ao consenso que me interessa.

Então vou dar um ponto final
Nessa minha obsessão desconexa
Para não desvirtuar o amor que tenho por você
E não acabar com nossa farra e nossa festa.
E se, por acaso, meu estado bomba não-idílico
Irritar seu espírito em um vacilo tolo,
Peço que não me dê um tapa e nem fique perplexa,
E que não me venha com um seco bolo.

Porque mais chato que uma impossibilidade crônica
É a não vibração de uma relação afônica.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Ordem de Grandeza

Não existe à primeira vista.
Não há modelo, alma combinação.
Não há registro em arquivo,
Ou contrato que, pelo crivo,
Se legitime no curso da história.
O tamanho do amor
É a confirmação do seu vazio
E a falta que ele faz
A gente mede na memória.

Lente

Calma.
Fotografe minha alma.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fiz no Vaso

No meu punho batedor,
Meu órgão mais prostituto,
Entre uma veia vesga
E uma artéria bêbada,
Sob muita pele e pouco músculo,
Um pouco acima da válvula mitral,
Tenho uma estante de maçaranduba bruta,
Presente de grego de uma velha puta,
Onde te guardo a partir de agora,
Sem hora e sem demora,
Na prateleira mais central.

E me pergunta hoje em dia
Minha consciência de elástico:
Tu és um moleque mazoquista
Ou um piadista rato fanático?

E eu digo: que naaaaaaaada...
Nem tanto, nem tampouco,
Sou assim mesmo: meio prático.

Sou multi apaixonado por ela,
Porque ela ri de mim,
Porque ela não me leva a sério
E, principalmente,
Por causa da sua linda perna de plástico.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Xuxanti, Olhos de Xavante

Boa noite, bom dia,
Obrigado, por favor,
Desculpa, de nada,
Chego cedo, não me espere.
Frases fáceis e feitas
Sem roteiros ou receitas,
Que a gente fala toda hora,
Na tempo que se enrola,
No tempo que se estende,
No tempo que circula.
Que a gente fala sem medo,
Sem segredo, sem trote e sem firula.
Às vezes sonhando, conscientes.
Às vezes acordados, por engano.

Mas diferente do euamovocê
Que traz, sem cobrança,
O compromisso do euteamo.

domingo, 9 de agosto de 2009

Política da Boa Vizinhança

Na minha vizinhança
Moderação e surto são sinônimos:
Tem skol a um e noventa e nove
Do lado do Alcoólicos Anônimos.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mãe do Diabo

Saí correndo com a pontuda na mão e a trouxinha de gente pendurada no meu cicloandante cabuloso. A dupla de dois estava registrando alguns jovens inflados de primaveras cantando, enchendo a cara de cachaça e postergando para a história fútil da humanidade mais uma das futilidades que, por serem descompromissadas com os compromissos, tornam-se mais importantes do que os gritos de dependência fanha e as mortes de grandes territorialistas virtuoses. Estavam lá o bigode de óculos, as bailarinas lunáticas de luneta na mão (tentando a achar o foco e o enfoque), os três patetas, a moçatambor e um monte de figurantes desarrumados em cima da hora pela produtora do por acaso eu tava ali. Eu bem vi uma moça, cabelos longos e enrolados, blusa branca, olhos de fúria, jeito de cigana, sorriso sacana. Eu bem a vi perdida nas idéias, mas achada na confusão dos sistemas de registro. E ela não me viu. Ou, se me viu, não fez muito caso. Mas eu a vi e pensei: que moça bonita essa. Quero ela pra mim. E fui embora com a trouxinha de gente deixando a pontuda avisada: fure os painéis, rasgue as telas, arrebente com os cenários antes mesmo que eu possa encontrá-la novamente entrelaçada num rapazote caradecão em mais um desses becos imundos que a gente cisma de frequentar só pra ver se a vida nos puxa pra baixo da linha do inferno, onde nem o diabo costuma ir porque sua mãe não deixa. E lá encontrei ela de novo, mãe do diabo, cuspindo fogo para clarear as mentes nubladas da moral, arrepiada pelo toque do folem de campinagrande, empunhando um multiplicador de vozes e enchendo de inveja as demais mães, mães de bêbados, bandidos e defuntos, que cantavam incessantemente para tentar espantar um ou dois males que logravam suas mentes poluídas. Os cantos traziam elas para o plano dos jardins de flores, incautos, como o parto-ato da primeira masturbação jovem. Pois bem, com o olho no furacão vermelho, através de cantatas e conversas fiadas nos lugares de encontros e desencontros de espíritos mancebos, batendo platinelas, mesas e palmas, subimos ao cume do sobradoalbergue, fazendo a maior arruaça contida que já vi na vida, orgia com contrato, coito interrompido da farra, no qual, trajando minhas duas fantasias, dormi sossegado e agitado com a cabeça afundada no travesseiro do conflito. Nasceu o sol. Acordando árido, senti a memória dando bicos na minha cabeça que, sufocada, tentava arranjar um espaço qualquer para arrumar a bagunça das minhas imagens, sons e sentidos. Está tudo aí? Perguntava. Está? Perguntei. E nos demos conta de que, além da ingenuidade, perdemos também a vergonha e o aparelho de falar com pessoas imateriais. Toca pra descer, pra achar o aparelhinho que ninguém mais vive sem um. E acha o aparelhinho. Oi. Oi? Oi! Você trabalha na Oi? A comemoração se deu com um banho de sal e uma despedida forçada. Despedida fórceps.

Pintura

Me ama o que sou,
Me ama o que faço.
E eu te amo
Contorno, tinta e traço.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tanto

Tanto te gosto
Que com o móvel me enrosco
Esperando a fala tua.
E, se perdida ela emudece,
O meu tempo mais que cresce
Nessa vontade carnecrua.

Quero você agora.
Quero muito, tanto e nua.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Conversa Normal

Você. Minha panacéia.
Falta de estratégia.
Descompasso.
Desconsolo.
Mistério de Dona Milú.

Você. Minha vitóriarégia.
Filme de comédia.
Inexata.
Desmedida.
A primeira letra u.

Você. Minha rima fácil.
Força de combate.
Destemida.
Dostoievski.
O meu tofú.

sábado, 18 de julho de 2009

Mambo que Sambo

Oi, quer dançar comigo? Tudo bem, mas eu sou um travesti. (Silêncio). E aí? Quer dançar comigo?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rói que Dói

Vou já dormir com o Bujão,
Hoje ele está meio dodói.
Fica caidinho, querendo carinho.
Isso me rói, que rói...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gaza Comigo

Todo corpo traz uma,
Todo coletivo tem a sua:
Mulherbombadinamite.
Voltando da Lapa ou da labuta,
Virada ou no limite.
Desintegrará minha agonia
Num susto de arrebite.
Descompassará minha harmonia
Pela janela de sulfite.
Com um olho que ignora
E um outro que insiste.
E não haverá mais vontade e desejo.
Não restará tesão ou sina.
Porque todo corpo tem uma
E todo coletivo tem a sua:
Mulherbombapalestina.

sábado, 11 de julho de 2009

Fardo

Que este fardo eu não carregue. Nem negue, nem renegue. Nem prove, nem comprove. Nem cubra, nem descubra que o que me move engendra um gás de paralisia. O olho que segue, segue: é o mesmo que me vigia. O olho que me persegue, vele: é o mesmo que te denuncia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Bolsa Amarela

Lorelai ganhou uma bolsa,
Toda transada, curtida, da hora.
Um dia ela fugiu de casa,
Tomou um táxi e foi embora.

Triste, ficou chorando,
Não teve tempo nem pra despedida.
Lorelai se pendurava na bolsa
E a bolsa se pendurava na vida.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Toca-Sinal

O professor mora na hora.

domingo, 5 de julho de 2009

Micropoema de Quinta

No boteco meu, de quinta,
Cabracega é o melhor recado:
Não se espera, nem se avança,
E cada um no seu quadrado.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dom Dom

Isqueiro no galinheiro.
Fogo no puteiro.
Com uma nota de vinte
Eu vou até às seis e vinte...

domingo, 28 de junho de 2009

Domingo 28

Como saio dessa?
Será um poço sem fundo?
Estar no mundo errado?
Ou estar errado no mundo?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

No Soutien

Guarde no peito o meu maior defeito.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Poema pras Bonitas

Eu conheço duas bonitas,
Uma que espera, outra que avança.
As duas são muito bonitas,
Uma me cega, outra me encanta.
As duas são muito bonitas,
Uma me beija, outra me espanca!

A da festa é aquela que espera,
Igual a da praça, igual a do jazz.
A mesma que bonita me cega
E que cega mais três, que cega mais dez.
Que atrai outros tão vinte e dois
E que tem vinte e dois (bailarina da vez).
Que espanca! me cobra fiança,
Me enxota, me afrouxa, me toma o mês.

A outra é aquela da mesa
Que avança certeira além do Paraguai.
Que puxa a cadeira faceira
Que não está de bobeira (uma dose a mais!).
Que encanta, meus males espanta,
Me brota palavras, me beija e se faz
Que inflama minha agenda, meu blog,
E seca, esnobe, meu dicionário Houaiss.

Eu conheço duas bonitas,
Uma que espera, outra que avança.
As duas são muito bonitas,
Uma me cega, outra me encanta.
As duas são muito bonitas,
Uma me beija, outra me espanca!

A do hotel é aquela que espera
Que foi e que era, que hoje não é mais.
A mesma que bonita me cega
E à farra me entrega um caminho pra trás.
E namora com cara mais velho,
Que deu com o chinelo no Freud de mim.
Que espanca! me cobra fiança,
Me vende, me rende, me expurga no fim.

A outra é áquela bandida
Que avança certeira a fronteira latina.
Que arrega, bufando desprega,
Tesão assombroso na voz de menina.
Que encanta, meus males espanta,
Rodopia gostosa, me beija e se faz
Que vai embora, que mora na hora,
E que deixa no ar um gosto de quero mais.

Eu conheço duas bonitas,
Uma que espera, outra que avança.
As duas são muito bonitas,
Uma me cega, outra me encanta.
As duas são muito bonitas,
Uma me beija, outra me espanca!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Micropoema da Menina que Tocatamborim

Se não me distraio, me traio.
Paro e disparo:
Quero dançar o teu samba.
Quero cantar teu sorriso raro.

domingo, 21 de junho de 2009

Estilhaço

Vou me espalhar pra poder catar os cacos.

Poema Traiçoeiro

Fui à Lapa,
Faca entre os dentes.
Buscar a
traiçoeira
Para uma festa quente.

Festei.

Saí da festa
Com a mão entrelaçada.
Inventei um romance
Sentado na calçada.

Apaixonei.

Ela me mandou embora,
Vai lá tu, correr no fundo.
E eu fazendo poema pra ela,

Sorriso mais bonito do mundo.

Confissão

Eu gosto de gente traiçoeira.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Na Boqueira Grande

Pow! E o meu cérebro fez ziiiiing!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Micropoema do Vácuo

Meu amor por você:
Somberro cuspido no nada.
Você não ouvirá mais.

Ninguém sabe como se propaga.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Micropoema do Buzão

Saí correndo para pegar o buzão
Para saber se o Bujão já sabe fazer doce.
Se quer tudo como quer que tudo fosse.
Se quer tudo como se fosse um sesse.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Guerra Fria

Levelúcida é a Rússia.

Pretérito Mais que Verdadeiro do Indicativo

Eu pinoqueio.
Tu pinoqueias.
Ele(a) pinoqueia.
Nós pinoqueiamos.
Vós pinoqueiais.
Ele(a)s Pinoqueiam.

domingo, 7 de junho de 2009

Poema do Dançarefinalizar

Conheci uma menina marginal,
Memória de elefante,
Que foi andarilha errante
Dos butecos manauaras.
Defensora incontestável
De um tratado inconsolável
Das liberdades provisórias
Às libertinas camisolas,
Está com a cabeça a prêmio
Porque apontou o dedo em riste
E é tema único e solitário
Desse meu clandestino chiste.
Bailarina madruguenha,
Fugitiva de romances,
Carnavalesca caribenha,
Nada será como antes.
Aprendeu na gafieira
A dançar como ninguém
E a marcar coreografia
Nos granfinales do bem.
E com máximo respeito
Que o meu peito pode arcar:
Me tire um dia no salão

Para dançar e finalizar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Poema do Panoptismo

Quando minhas vozes embrutecem
Nos cantos surdos do meu corpo
E quando o mesmo, paralisado e oco,
Permite o eco das vontades negadas
É que me faço cambalaxo zombeteiro,
Marginália, mais frágil que matreiro,
Embriagado no rigor das certezas mortas
E no seu olhar que atravessa a ponte e me vigia.
Mergulho num teatro raso de alegria,
Performance sabotadora e autopunitiva,
E não me esqueça no porão da sua memória,
E não me atropele com sua locomotiva.
Porque eu não vou fugir da sua raia,
Mas vou pedir pro DJ tocar dez vezes Tim Maia.
Porque estás comigo quando estou além,
Ainda que o DJ toque cem vezes Jorge Ben.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Poema das Vírgulas

Se você for só meu amor,
Amor meu em mim será só.
E se só você se for,
Deixando-me só, com teu amor,
Só ficaria só.

Entretanto,

Se você for só, meu amor,
Amor, meu em mim será só.
E se, só, você se for,
Deixando-me, só com teu amor,

Só ficaria, só.

***

Abaixo,
Reescreva o Poema das Vírgulas
Substituindo a palavra
Pelas seguintes palavras:

- Sozinho
- Sozinha
- Apenas
- Único

Poema das Lacunas

Se você for _______ meu amor,
Amor meu em mim será _______.
E se _______ você se for,
Deixando-me _______, com teu amor,
_______ ficaria _______.

Entretanto,

Se você for _______, meu amor,
Amor, meu em mim será _______.
E se, _______, você se for,
Deixando-me, _______ com teu amor,
_______ ficaria, _______.

domingo, 31 de maio de 2009

Cachorro Raivoso

Sou e estou apaixonada por um pitibul que arrancou um pedaço da minha pernadetrês na última procissão de Santa Terezinha dos Conformes. Ele é esclerosado de idéias, fanático por casas da moeda, viciado em concursos públicos de tribunais da inquisição. Pela manhã, acorda cedo para correr atrás dos gatos boêmios, vândalos invasores que não o deixam dormir. Pela tarde, hiberna confortável em sua casinha virtual à procura de albuminas do saber cachorral, a cultura dos cães de guarda da moral. Pela noite, vai às reuniões clandestinas dos cachorros de usquê, um grupo de caninos que mistura a zebuzisse crônica da maçonaria com a fanfarrice das barracas de rótidógui de esquina. Sou e estou apaixonada pela sua forma de latir finês, pela sua vontade de ser cachorro raivoso, pela seu esbelto corpo conservado por hidradantes da Avon de Madureira e pelos espínins incontroláveis da Av. Brasil. Por ele todo, em resumo, sou e estou apaixonada e enfeitiçada. Mas, disse-me o Doutor Saccharomyces Cerevices (acreoumilho, 2007): é fundo sem poço, minha nobre, ele está à procura de cachorras de traço senil. Respirei fundo para não ter que mandar o doutor à putaquelosparile, mas, reta, manti-me na elegância do meu sapato alto de cinderela. Sou enviesada, fio desencapado, linda rosa juvenil. Cachorra que vai descendo até o chão. Não tenho paciência para ficar na varanda de uma casa na Região dos Lagunas e Dourados observando meus donos bêbados disputando uma partida de estrípe-buraco. Quero botar meu bloco na rua, uivar minhas angústias nas horas perdidas da madrugada, dançar com os mendigos mais fedidos e felizes do mundo. Mais fedidos que felizes. Preciso transformar meu cérebro cachorral num queijo suíço e eliminar todos os espíritos de pastores, dóbermans, puldous e chiuauas do meu corpo desbaratinado. Preciso tomar porres homéricos de água com xixi e encher minhas entranhas de lavagem de porco para não ter que pensar que a mordida que você me deu pode grangrenar meu coração. Preciso dormir na rua, levar paulada, banho de chuva, correr atrás dos carros como um louco corre atrás da sanidade. Preciso ficar senil para ter em você, amor-meu-pitibul-traíra, minha constância, minha relevância, minha vontade de ser cachorra e minha única possibilidade de ser vacinada contra a raiva.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Poema do MaldoSéculo

Me encasqueto só de pensar
Que contigo ainda vou esbarrar
Sóbrio no meu estado idílico.

E mais uma dose eu vou tratar de tomar
Pra quando você inventar de gastar
Com meu surto de paixão esquisito.

Mas dessa vez não vou dar o braço a torcer
Arranco a língua pra não ter que dizer
Que você é a maior das feminices do bonito.

E, portanto, é ver para crer,
O caô que eu vou proceder:

Relaxa, Bonita, não fui eu, foi meu eu lírico.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Testa-Elástico

Estive pensando em como construi a idéia de tempo na minha mente de araque. Antes de ontem, depois de amanhã, semana passada, ano que vem. Essa noção do movimento do pensamento no espaço (que se reflete e se consome no mexemexe diário do corpo) tomou forma em mim na construção do pensamento do João. Pai, você vai no seu trabalho que nós fomos ontem? – perguntou ele para mim hoje. Mas o interessante é que o ontem dele é a mesma coisa que a sexta passada para mim. Assim como o amanhã que ele pensa tem a ver com qualquer tempo que não seja o seu agora, aquilo que se vive no instante em que se pensa sobre o que se pensa. E isso é de pirar o cabeção, não é? Para o João só há três medidas de tempo: o ontem, que é tudo o que não é o hoje; o agora, que é o hoje; e o amanhã, que, em regra, é qualquer momento que virá depois do hoje (e que, na verdade, para ele, é o agora). Ontem, Agora e Amanhã. Simples assim. E convenhamos: não é mesmo ontem tudo aquilo que já passou batido? E não será amanhã, menos ou mais intenso, mais ou menos intenso, aquilo que eu espero sabe-se lá quando? São medidas de tempo e, não sei se felizmente ou infelizmente, aprendi a mensurar o coitado, dividi-lo e classificá-lo de acordo com a capacidade de armazenamento seguro da minha memória e de acordo também com a frequência da minha ansiedade. Mas o mais é o agora. O agora é demais. O agora do João (que é o meu humilde e modesto hoje) é recheado de energia pulsante, força centrífuga. Porque é como se fosse um elástico novo em contato com os corpos em conflito. Um elástico novo que está no auge do tesão. Muita pressão. Penso bem: o meu hoje (que é o agora do João) só não é mais o meu agora porque o meu elástico afrouxou com a ação do tempo no espaço que sobre mim atua. No meu espaçotempo circunscrito. E não é assim que funciona? O elástico afrouxa com o tempo. Que nem as vontades, as curiosidades, os desejos que vão perdendo a força quando são incessantemente testados na máquina de testar elástico da vida. Aí se prolongam as medidas de tempo. Os agoras viram horas. As horas viram dias. Os dias, semanas. As semanas, meses. Os meses, anos. E nessa brincadeira de afrouxar os agoras, vou afrouxando a minha vontade de viver que, diga-se de passagem, ainda é muita. Muita mesmo.

domingo, 24 de maio de 2009

Micropoema de domingo

Domingo é um dia atravessado
Que a manhã a noite inunda.
Macarrão é solução no prato
Para o meu dia cara de bunda.
Fico dez vezes mais Tim Maia
Esperando a cara da segunda.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Poema das Praxidades

Quando me indagam praxidades,
Minha resposta fica logo larga
E eu me contorço nas supostas bostas
Respostas da caridade.

Mas você se dá bem com ela?
Perguntam os engessados.
Mais que tu e a tua sonsa noiva,
Cambada de prego castrado.

Minha regra é não ter regra,

Ficar com o sinistro dela.
Namorar com teu sinismo sonso.
Casar com sua patetada.


Ver ela virar mulher na lua cheia da madrugada.

Deitar num colchão furado,
Passagem pra terra finda.
Trepar na pedra selvagem,
Calombo da praia linda.

Guardar seu carinho todo

No tapa que me deu na cara.
Ferver sua pele toda,

Espelho de beleza rara.

E quando, em mais um lance vesgo,
Perguntar como era antes,
Direi: somos confidentes,
Comparsas e, quem sabe, amantes.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Poema do Bicho Solto

Bicho solto dentro de mim.
Louco, revolto.
Bicho enfim.

Quando eu te capturar arredio,
Fugitivo nas vastas terras órfãs,
Vou te enjaular só e sozinho
Na última pasta da última gaveta
Do último armário da última sala
Do último prédio da última rua
Do arquivo morto da minha memória.

E lá vou te deixar quieto,
Sinuoso com olhar reto,
Pão e água e colchão de mola
Para que em meu corpo você não faça escola,
Nem se crie, nem se copie,
Nem se cresça, nem desapareça,
Nem se multiplique e me subtraia.

Vai ficar lá, todo inteiro,
Arrumando e desarrumando a mala,
Calando e descalando a fala,
Até que alguém lha pague a fiança,
Fiado e com desconfiança,
Te libertando para assombrar
Outros mundos com teu jeito assim.

Bicho solto dentro de mim.
Louco, revolto.

Bicho enfim.

domingo, 17 de maio de 2009

Cãibra

O tal do biguibangue quando estourou ricocheteou vontade de descobrir para todo o lado. E nessa vontade ricocheteou a menina do Hotel Paris com força, pé na porta, estou entrando. Pisava eu em lama, pisava eu em nuvem e afundava na minha cegueira morta. A idéia não era essa, mas a boca não cala, ensaboada, solta todas as meias verdades possíveis quando não se tem muito o que dizer. Ficar perto e olhar já bastava, mas alguma coisa me empurrava pra dentro do mundo dela. Tradução sem eficiência, as línguas se enrolaram na impossibilidade de comunicação. A línga dormiu na boca e o corpo cansou. O silêncio me anestesiou e me cortejou até a hora em que a voz subiu. Acorda, doidão! Acorda! Você está me perseguindo! Quando brincava de polícia e ladrão eu era o ladrão. Gostava de fugir. E ontem eu fugi dela porque precisava mudar essa imagem que eu não construí. Mas agora já era. A serigrafia impressa na percepção já devastou qualquer chance de sobrevida. Acorda, doidão! Quando eu acordei vi a cama de cima por baixo e uma tatuagem de barata na madeira. Cãibra na perna. Cãibra na consciência. Se fosse um sonho seria bem melhor. Só teria que prestar contas para mim.

Poema da Bonita

Você é a mais bonita
Que a boniteza do bonito pôde bonitar.

Bonita sempre.
Bonita todo dia.
Bonita comigo.
Bonita com teus amigos.
Bonita com a vida.

Você é sim.
Assim.
A mais bonita.

E na minha agenda bandida
Tem menos dois dias
Que eu me tirei para dar para você.
E o que lá dizia você já sabia:
Que a mais bonita de todas
Num poema não crê.

sábado, 16 de maio de 2009

Poema da Perdição

Já perdi quatro namoradas, um amor.
Uma paixão de faculdade e uma paixão de carnaval.
Perdi convite, ingresso, senha, lugar na fila, vez.
Perdi início de filme, final de festa.
Festa boa porque tava duro.
Festa melhor porque tava chapado.
Já perdi a hora da entrada, a hora da saída.
Perdi o tempo do sinal.
Prova de concurso, prova de coragem,
Prova de amor, prova de vestibular.
Já me perdi num lugar estranho e num lugar familiar.
Já me perdi dentro da barca Rio-Niterói
E depois perdi a final da Copa de 2002.
Perdi final de campeonato.
De campeonato de botão e de judô.
De escola de samba, de escola de criança.
Final de campeonato de videogueime.
Já me perdi dos meus amigos no show.
Do meu romance no bloco.
Perdi dinheiro, casaco, chinelo, guarda-chuva.
Prova de proficiência em língua estrangeira:
Eu já perdi.
Já perdi amigo.
Já perdi a honra e a dignidade.
Já perdi a vergonha.
Perdi a chave da bicicleta.
A chave de casa.
Perdi a data do vencimento da conta.
A consulta da dentista do meu filho.

Já perdi o que se anota
E o que se guarda na memória.

Já perdi a vontade de ter,
A vontade de ser o que se é,
A vontade de ser alguém
E outra vontade qualquer.

E de tanto perder e me perder com tanto,
Perdi comigo o sentido do que é perder.

E, aí, me achei.

Balão Mágico

Suando pelos olhos, subi a ladeira declinando íngreme. Senti dobrar a coluna vertebral, o vergalhão do corpo de pastel que me deram na fornada do dia quatro mil quinhentos e sessenta e sete depois da invenção do marcador de livro. Bati três palmas porque quatro era um outro sinal. A iguana miou. Bati novamente três palmas na mesma cadência morsiâniaca dos perdidos em altomar. A bexiga elástica de pelos correu pela quina do entrador que se abriu sem muita vontade. Camisola andante, traje a rigor da festa da preguiça, plainava uma moça com um imã na mão que me conduziu a abredura dos passantes. Seus olhos saltavam pelos espelhos convergentes que divergiam do seu rosto de moça prudente e bonita. Estavam áridos como boca de ressaca. Estavam quietos. Estavam calmos. Estavam no seu lugar, no lugar de onde se vê o mundo como se vê. Adentrando ao terreno hostil, berço que me acolhia, vi minha brisavó sorrir num sorriso de sudoeste, me perguntando se já havia jantado. Estava em casa, mas não me sentia. Subi o único andar que havia para pedir que me dessem um ingresso para o show de qualquer banda sinistra, bandamania que estivesse em turnê na terra dos cafajestes e pilantras de esquina. Na fila de espera, levei um golpe cruel da organização da festa dos sem ter o que fazer: acabou-se a meia entrada, acabou a entrada pra você, pastel. E não tinha mais desculpa, não tinha mais farinha. Acabou o milho, acabou a comida da galinha. O show passava batido e de longe ouvia o suor dos olhos batendo nas minhas pedras bochechosas, sustento de quem quer se pendurar numa renda de cortina e atravessar o continente a nado. E me pensei. E me calei. E me encostei. E me guardei. E me encolhi. E me sumi. E me morri. Tomei uma pílula de cinema e fui sentar na primeira fila do filme da sessão das dez. Fiquei surdo com o que não via. Fiquei cego com o barulho que não ouvia. Perdi o gosto pelo cheiro e o cheiro que comia. Perdi o tato quando atravessei o sinal vermelho na contramão da avenida. E ali fiquei, dopado, esperando que a ambulância dos culpados me socorresse e me desse um sobressalto de vida. Precisaria de um balão de oxigênio. Ou de um Balão mágico da alegria. Um balão mágico amigo.

Quando você não está

Às vezes você não está. Eu bato à porta, toco a sineta, bato palmas e você não está. Aí eu começo a dançar sozinho uma dança meio esquisita pra ver se chove um pouco de você em mim. O farol de deus fica puto e se enche de algodão-doce de abacaxi. O que é pálido fica sujo e logo começa a gritaria da família mal educada, fazendo baderna no andar de cima. Móvel prum lado, móvel proutro lado. Curtoscircuitos e pane geral. Não chove você, mas chove sinal. Sinal a quilo, sinal a metro. Se espalha pelo pisador, pelo corredor de autoandante, se espalham pelo mundo os sinais de você em mim. E eu encharcado de saudades, inchado de medos e suando em bicas de incertezas. Quando você não está, eu invoco meu anjo exterminador, meu comparsa, meu capataz, meu copiloto, minha simbiose mutual, meu alterego, meu amôrcégo, meu outro eu, meu pardessapato, minha prisão incondicional... meu Garrincha. Pra cuidar de mim, quando você não está. Porque há muito dentro dele do que você muito me dá.

Reveión

Ontem, quando nasci do sonho que esqueci ao nascer, vi que você já tinha ido embora. Deixou um tirador de frio para me fazer companhia e foi pegar um sol de asfalto em Bangladesh de Cima. Fiquei cismado, triste para carésh. Suspirei melado e em pantomimas comuniquei minha ira ao Deus supremo da saudade, guardião primeiro da terceira lua de Vênus, mais conhecida como a lua da paixão irresponsável. Estava melado de suado e minha cabeça vinha se afogando no travesseiro, herança da avó da minha tataravó, que morreu na guilhotina da Revolução Francesa. Pensei em suspirar, mas me faltava a receita do suspiro. Fiquei pensando que suspirar poderia ser um bom passatempo enquanto você não voltava da cozinha com meu café matinal: panqueca de queijo, coca-cola e suspiros. E quanto mais pensava, mais suspirava e fazia crescer o bolo do meu pensamento arredio. Pensava na porra do meu amor, onde ia escondê-lo para ir ao bloco das desprovidas de vergonha e caráter. Guardar no armário seria a opção mais coerente e sadia, se meu chão não estivesse de mudança. Não podia deixá-lo à vista. O meu amor não foi comprado no mercadinho de esquina e alguém poderia roubar. Achei por bem engolí-lo a seco, sem tempero, sem molho e sem achismo. Quando você me desse um beijo do bom dia, lhe empurraria goela abarrrro o meu amor e pediria que só me devolvesse depois dos meus litros de cerveja bandida. Queria ficar vazio por dentro, para não ter que preencher minhas culpas com tablobagens. Mas você fugiu com o leiteiro, com o padeiro, com o açougueiro. Meu amor ficou entalado na barriga. Teria que esperar algumas horas para devolvê-lo ao mundo, com juros e taxa corrigida. Seria portanto uma experiência única: guardar o amor que dou dentro de mim durante uma fração de dia. Ao chegar ao bloco das desprovidas de vergonha e caráter, caí no olho do furacão. A ordem era rebolar, trepar em cima dos autoandantes, cutucar os seios de verdade e de mentira. Mas fiquei mais para dentro de mim. O meu amor estava sendo digerido e a cerveja me empapuçava a quilo. Plantei raiz em frente ao Palácio do Rei. Depois fugi numa alucinação repentina e fui plantar raiz perto da praia que não é praia, fumando um cigarro de chocolate com um amigo que fugiu com a esposa para o apartamento da vizinha. Dizem que lá fizeram uma história que hoje precisa de carinho e atenção. Quando passou a viagem de dentro, corri atrás do caminhão de travestis, mas já era tarde. Ele foi embora sem me levar e fiquei lá no fim da praia que não é praia com o meu amor dentro de mim ainda. Dormi mais uma vez, só para gastar a cisma. Ao acordar, pus minha ciroula para ver o espetáculo de bombinhas. Foi quando me ligou o anjo que me trouxe à Terra pedindo para dormir comigo naquela noite. Não poderia recusar. E foi ao me encontrar com o anjo que encontrei com você de novo. O momento do start do elevador dentro de mim. Meu amor estava em magnetismo, copulando sentidos, meioses e mitoses sem fim. Você me deu boa noite e bom ano novo e foi dormir num suspiro assim: ... . E eu queria que o mundo parasse naquele instante para que ficássemos você, eu, o meu amor e o anjo que na mesma noite cuidou de mim. Mas não deu.

Pensamento do João

Se eu sesse você, eu ia.

Poema do Tempo

Rosenbaun tinha um amor
Que jurava ser o maior da vida
E para ele comprou uma casa
Na maior e mais linda avenida.
O mantinha feliz sossegado,
Cercado de mimos e apreços.
Estava sempre perfumado e belo
À espera no mesmo endereço.
Um dia, porém, repentino,
O amor agiu diferente:
Bateu a porta do quarto
Por causa da escova de dentes.
Passado um mês, quase dois,
O mesmo agiu com ranhura:
Calou-se um dia inteiro
Por causa da abotoadura.
Um ano corrido após,
Arredio, se pôs em batalha:
Greve de tudo na cama
Por causa da molhada toalha.
Dez anos passaram sem egos
E o amor em um caos turbulento:
Fitos surdos e toques cegos
Por causa do pouco provento.
Trinta anos passados à pressa,
O amor chamado nem respondia:
O silêncio morto da casa
No seu próprio eco morria.
Numa quarta, dia de feira,
Rosenbaun saiu cedo - rotina.
O amor ainda fez uma queixa
Quando ele dobrava a esquina.
E lá ficou, rancoroso,
Do Rosenbaun, o maior amor da vida,
Esperando ranzinza ansioso
Na casa da antes bela e maior avenida.
E ficou lá por mais sete anos
Com o olhar carente e atento,
Pensando em como fazer voltar

A cruel flecha do tempo.

Micropoema do Querer

Tudo que pode eu quero.
Tudo que não pode eu quero too.
Tudo que pode eu quero.
Tudo que não pode eu quero two.

Poema do Homem Ordinário

Mim, freguês da lógica ordinária,
Gaboso fico por não usar relógio,
E me engano ingênuo, penso bobo,
Que não sou peça da representação do óbvio.

Me afogo então em discursos desconexos.
Vacilo.

Quando segundo reflexos.
Minuto brevidades em reticências.
Horo encontros possíveis.
Ano vidas em cadências.
Decádo meus projetos de futuro.
E secúlo vidas em demência.

Poema do Prasempre

Num estado puro com certeza
(e sem esforço.)
Num combinado de momentos e lugares certos

(calendário?)
Num calado leito

(nosso dorso.)
Estar num caminho findante

(infinitário.)
Deixar pra sempre a vida pacata

(esse colosso!)
Na certeza de um amor

(binário.)
Dormir pra sempre no seu abraço num motel barato

(um fosso?)
E não acordar nem por um barulho

(do caralho!)

O Homem da Memória de Barata

Cutucava ele as próprias antenas, disparate à suposição do real, quando descobriu por intermédio alheio que sofria de um diferente mal. Mal expressado o verso, talvez o bem, quem o saberia? O fato é que: fato consolidado, todos sabiam, ele nunca saberia. Que tinha memória de barata nata - ata da ciência que ao caso justificou. O que em nós é lembrança certa, nele já acendeu e já apagou. Resultado: nunca teve tal família. Não por abandono - como a alguns cabe a via. Nem por discriminação - essa ação tola de dar dó. Nem por opção de escolha - ninguém escolhe ser só. Nem por acordo, nem por dinheiro, nem por decreto de falsa democracia. Ele não tinha pai, mãe, irmão, tia, simplesmente, porque passavam dez minutos e não mais os reconhecia. E tinha de ser lembrado toda noite, todo dia, toda noite, todo dia, que aquela que acolhe o suspiro do choro também divide o grito de alegria. Ela, sim, sem opção de escolha, porque uma mãe não escolhe um filho, como um filho escolhe uma amiga. Isso talvez doesse nela (na família), mas o homem da memória de barata... ele nunca saberia. Nem do quente, muito menos do frio. Nem da melhor parte da língua - a que distingue o gosto. Ele não gravava braço ou perna. Ele não gravava rosto. Até o espelho mais memória que ele tinha, pois, a imagem que ele via cedo, ao espelho não tardaria afujentar-se dos traços. Não por medo, mas por tédio dessa vaidade vazia que o ser humano carrega no seu inconsciente de mierda. Ele não lembrava da própria imagem, mas a imagem - falsa - dele lembraria. Porém, memória de barata, ele nunca soube, saberá ou saberia. Da falta de um abraço, não do chocho, daquele que dá laço. Da falta do beijo que faz dar vontade de rir. Do tesão incontrolável. Do gozo intenso. Do costume do cheiro. Da necessidade da presença. Da sentença mais bonita do eu amo você. Para ele tão pouco duraria e seria tão ligeiro, que a intensidade do desejo na água se diluiria. E pelo menos uma pessoa no mundo ainda por ele se magoaria. Não por maldade, por sua vez, definia sentimentos como a possibilidade de um cego enxergar: não os tinha. Não sentia beliscão e nem algo que ao corpo desvia. Não sentia nada. E nunca saberia. Do amor - que é o que a gente, nós todos, não entende, não por capricho, nem por carência dita, mas, talvez, por uma flexão errada do espaçotempo que gera a mais aflita agonia. O que a gente não entende por mistério, ele não entende por sacanagem da memória ativa. Para nós, o caminho quase sempre é o de volta. Para ele, é sempre o de ida. Em comum, só a certeza lida e relida de que, sobre o amor, ele nunca, e a gente também nunca.

Micropoema da Certeza

A dúvida é minha matéria,
Corre pela minha artéria,
Pergunta pelo resto de mim.
Enquanto houver dúvida, viverei enfim.
Enquanto houver dúvida, viverei. E fim.