Suando pelos olhos, subi a ladeira declinando íngreme. Senti dobrar a coluna vertebral, o vergalhão do corpo de pastel que me deram na fornada do dia quatro mil quinhentos e sessenta e sete depois da invenção do marcador de livro. Bati três palmas porque quatro era um outro sinal. A iguana miou. Bati novamente três palmas na mesma cadência morsiâniaca dos perdidos em altomar. A bexiga elástica de pelos correu pela quina do entrador que se abriu sem muita vontade. Camisola andante, traje a rigor da festa da preguiça, plainava uma moça com um imã na mão que me conduziu a abredura dos passantes. Seus olhos saltavam pelos espelhos convergentes que divergiam do seu rosto de moça prudente e bonita. Estavam áridos como boca de ressaca. Estavam quietos. Estavam calmos. Estavam no seu lugar, no lugar de onde se vê o mundo como se vê. Adentrando ao terreno hostil, berço que me acolhia, vi minha brisavó sorrir num sorriso de sudoeste, me perguntando se já havia jantado. Estava em casa, mas não me sentia. Subi o único andar que havia para pedir que me dessem um ingresso para o show de qualquer banda sinistra, bandamania que estivesse em turnê na terra dos cafajestes e pilantras de esquina. Na fila de espera, levei um golpe cruel da organização da festa dos sem ter o que fazer: acabou-se a meia entrada, acabou a entrada pra você, pastel. E não tinha mais desculpa, não tinha mais farinha. Acabou o milho, acabou a comida da galinha. O show passava batido e de longe ouvia o suor dos olhos batendo nas minhas pedras bochechosas, sustento de quem quer se pendurar numa renda de cortina e atravessar o continente a nado. E me pensei. E me calei. E me encostei. E me guardei. E me encolhi. E me sumi. E me morri. Tomei uma pílula de cinema e fui sentar na primeira fila do filme da sessão das dez. Fiquei surdo com o que não via. Fiquei cego com o barulho que não ouvia. Perdi o gosto pelo cheiro e o cheiro que comia. Perdi o tato quando atravessei o sinal vermelho na contramão da avenida. E ali fiquei, dopado, esperando que a ambulância dos culpados me socorresse e me desse um sobressalto de vida. Precisaria de um balão de oxigênio. Ou de um Balão mágico da alegria. Um balão mágico amigo.
sábado, 16 de maio de 2009
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