sábado, 16 de maio de 2009

Poema do Tempo

Rosenbaun tinha um amor
Que jurava ser o maior da vida
E para ele comprou uma casa
Na maior e mais linda avenida.
O mantinha feliz sossegado,
Cercado de mimos e apreços.
Estava sempre perfumado e belo
À espera no mesmo endereço.
Um dia, porém, repentino,
O amor agiu diferente:
Bateu a porta do quarto
Por causa da escova de dentes.
Passado um mês, quase dois,
O mesmo agiu com ranhura:
Calou-se um dia inteiro
Por causa da abotoadura.
Um ano corrido após,
Arredio, se pôs em batalha:
Greve de tudo na cama
Por causa da molhada toalha.
Dez anos passaram sem egos
E o amor em um caos turbulento:
Fitos surdos e toques cegos
Por causa do pouco provento.
Trinta anos passados à pressa,
O amor chamado nem respondia:
O silêncio morto da casa
No seu próprio eco morria.
Numa quarta, dia de feira,
Rosenbaun saiu cedo - rotina.
O amor ainda fez uma queixa
Quando ele dobrava a esquina.
E lá ficou, rancoroso,
Do Rosenbaun, o maior amor da vida,
Esperando ranzinza ansioso
Na casa da antes bela e maior avenida.
E ficou lá por mais sete anos
Com o olhar carente e atento,
Pensando em como fazer voltar

A cruel flecha do tempo.

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