sábado, 16 de maio de 2009

Reveión

Ontem, quando nasci do sonho que esqueci ao nascer, vi que você já tinha ido embora. Deixou um tirador de frio para me fazer companhia e foi pegar um sol de asfalto em Bangladesh de Cima. Fiquei cismado, triste para carésh. Suspirei melado e em pantomimas comuniquei minha ira ao Deus supremo da saudade, guardião primeiro da terceira lua de Vênus, mais conhecida como a lua da paixão irresponsável. Estava melado de suado e minha cabeça vinha se afogando no travesseiro, herança da avó da minha tataravó, que morreu na guilhotina da Revolução Francesa. Pensei em suspirar, mas me faltava a receita do suspiro. Fiquei pensando que suspirar poderia ser um bom passatempo enquanto você não voltava da cozinha com meu café matinal: panqueca de queijo, coca-cola e suspiros. E quanto mais pensava, mais suspirava e fazia crescer o bolo do meu pensamento arredio. Pensava na porra do meu amor, onde ia escondê-lo para ir ao bloco das desprovidas de vergonha e caráter. Guardar no armário seria a opção mais coerente e sadia, se meu chão não estivesse de mudança. Não podia deixá-lo à vista. O meu amor não foi comprado no mercadinho de esquina e alguém poderia roubar. Achei por bem engolí-lo a seco, sem tempero, sem molho e sem achismo. Quando você me desse um beijo do bom dia, lhe empurraria goela abarrrro o meu amor e pediria que só me devolvesse depois dos meus litros de cerveja bandida. Queria ficar vazio por dentro, para não ter que preencher minhas culpas com tablobagens. Mas você fugiu com o leiteiro, com o padeiro, com o açougueiro. Meu amor ficou entalado na barriga. Teria que esperar algumas horas para devolvê-lo ao mundo, com juros e taxa corrigida. Seria portanto uma experiência única: guardar o amor que dou dentro de mim durante uma fração de dia. Ao chegar ao bloco das desprovidas de vergonha e caráter, caí no olho do furacão. A ordem era rebolar, trepar em cima dos autoandantes, cutucar os seios de verdade e de mentira. Mas fiquei mais para dentro de mim. O meu amor estava sendo digerido e a cerveja me empapuçava a quilo. Plantei raiz em frente ao Palácio do Rei. Depois fugi numa alucinação repentina e fui plantar raiz perto da praia que não é praia, fumando um cigarro de chocolate com um amigo que fugiu com a esposa para o apartamento da vizinha. Dizem que lá fizeram uma história que hoje precisa de carinho e atenção. Quando passou a viagem de dentro, corri atrás do caminhão de travestis, mas já era tarde. Ele foi embora sem me levar e fiquei lá no fim da praia que não é praia com o meu amor dentro de mim ainda. Dormi mais uma vez, só para gastar a cisma. Ao acordar, pus minha ciroula para ver o espetáculo de bombinhas. Foi quando me ligou o anjo que me trouxe à Terra pedindo para dormir comigo naquela noite. Não poderia recusar. E foi ao me encontrar com o anjo que encontrei com você de novo. O momento do start do elevador dentro de mim. Meu amor estava em magnetismo, copulando sentidos, meioses e mitoses sem fim. Você me deu boa noite e bom ano novo e foi dormir num suspiro assim: ... . E eu queria que o mundo parasse naquele instante para que ficássemos você, eu, o meu amor e o anjo que na mesma noite cuidou de mim. Mas não deu.

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