Estive pensando em como construi a idéia de tempo na minha mente de araque. Antes de ontem, depois de amanhã, semana passada, ano que vem. Essa noção do movimento do pensamento no espaço (que se reflete e se consome no mexemexe diário do corpo) tomou forma em mim na construção do pensamento do João. Pai, você vai no seu trabalho que nós fomos ontem? – perguntou ele para mim hoje. Mas o interessante é que o ontem dele é a mesma coisa que a sexta passada para mim. Assim como o amanhã que ele pensa tem a ver com qualquer tempo que não seja o seu agora, aquilo que se vive no instante em que se pensa sobre o que se pensa. E isso é de pirar o cabeção, não é? Para o João só há três medidas de tempo: o ontem, que é tudo o que não é o hoje; o agora, que é o hoje; e o amanhã, que, em regra, é qualquer momento que virá depois do hoje (e que, na verdade, para ele, é o agora). Ontem, Agora e Amanhã. Simples assim. E convenhamos: não é mesmo ontem tudo aquilo que já passou batido? E não será amanhã, menos ou mais intenso, mais ou menos intenso, aquilo que eu espero sabe-se lá quando? São medidas de tempo e, não sei se felizmente ou infelizmente, aprendi a mensurar o coitado, dividi-lo e classificá-lo de acordo com a capacidade de armazenamento seguro da minha memória e de acordo também com a frequência da minha ansiedade. Mas o mais é o agora. O agora é demais. O agora do João (que é o meu humilde e modesto hoje) é recheado de energia pulsante, força centrífuga. Porque é como se fosse um elástico novo em contato com os corpos em conflito. Um elástico novo que está no auge do tesão. Muita pressão. Penso bem: o meu hoje (que é o agora do João) só não é mais o meu agora porque o meu elástico afrouxou com a ação do tempo no espaço que sobre mim atua. No meu espaçotempo circunscrito. E não é assim que funciona? O elástico afrouxa com o tempo. Que nem as vontades, as curiosidades, os desejos que vão perdendo a força quando são incessantemente testados na máquina de testar elástico da vida. Aí se prolongam as medidas de tempo. Os agoras viram horas. As horas viram dias. Os dias, semanas. As semanas, meses. Os meses, anos. E nessa brincadeira de afrouxar os agoras, vou afrouxando a minha vontade de viver que, diga-se de passagem, ainda é muita. Muita mesmo.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
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