sábado, 16 de maio de 2009

Poema da Perdição

Já perdi quatro namoradas, um amor.
Uma paixão de faculdade e uma paixão de carnaval.
Perdi convite, ingresso, senha, lugar na fila, vez.
Perdi início de filme, final de festa.
Festa boa porque tava duro.
Festa melhor porque tava chapado.
Já perdi a hora da entrada, a hora da saída.
Perdi o tempo do sinal.
Prova de concurso, prova de coragem,
Prova de amor, prova de vestibular.
Já me perdi num lugar estranho e num lugar familiar.
Já me perdi dentro da barca Rio-Niterói
E depois perdi a final da Copa de 2002.
Perdi final de campeonato.
De campeonato de botão e de judô.
De escola de samba, de escola de criança.
Final de campeonato de videogueime.
Já me perdi dos meus amigos no show.
Do meu romance no bloco.
Perdi dinheiro, casaco, chinelo, guarda-chuva.
Prova de proficiência em língua estrangeira:
Eu já perdi.
Já perdi amigo.
Já perdi a honra e a dignidade.
Já perdi a vergonha.
Perdi a chave da bicicleta.
A chave de casa.
Perdi a data do vencimento da conta.
A consulta da dentista do meu filho.

Já perdi o que se anota
E o que se guarda na memória.

Já perdi a vontade de ter,
A vontade de ser o que se é,
A vontade de ser alguém
E outra vontade qualquer.

E de tanto perder e me perder com tanto,
Perdi comigo o sentido do que é perder.

E, aí, me achei.

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