domingo, 17 de maio de 2009

Cãibra

O tal do biguibangue quando estourou ricocheteou vontade de descobrir para todo o lado. E nessa vontade ricocheteou a menina do Hotel Paris com força, pé na porta, estou entrando. Pisava eu em lama, pisava eu em nuvem e afundava na minha cegueira morta. A idéia não era essa, mas a boca não cala, ensaboada, solta todas as meias verdades possíveis quando não se tem muito o que dizer. Ficar perto e olhar já bastava, mas alguma coisa me empurrava pra dentro do mundo dela. Tradução sem eficiência, as línguas se enrolaram na impossibilidade de comunicação. A línga dormiu na boca e o corpo cansou. O silêncio me anestesiou e me cortejou até a hora em que a voz subiu. Acorda, doidão! Acorda! Você está me perseguindo! Quando brincava de polícia e ladrão eu era o ladrão. Gostava de fugir. E ontem eu fugi dela porque precisava mudar essa imagem que eu não construí. Mas agora já era. A serigrafia impressa na percepção já devastou qualquer chance de sobrevida. Acorda, doidão! Quando eu acordei vi a cama de cima por baixo e uma tatuagem de barata na madeira. Cãibra na perna. Cãibra na consciência. Se fosse um sonho seria bem melhor. Só teria que prestar contas para mim.

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