segunda-feira, 18 de maio de 2009

Poema do Bicho Solto

Bicho solto dentro de mim.
Louco, revolto.
Bicho enfim.

Quando eu te capturar arredio,
Fugitivo nas vastas terras órfãs,
Vou te enjaular só e sozinho
Na última pasta da última gaveta
Do último armário da última sala
Do último prédio da última rua
Do arquivo morto da minha memória.

E lá vou te deixar quieto,
Sinuoso com olhar reto,
Pão e água e colchão de mola
Para que em meu corpo você não faça escola,
Nem se crie, nem se copie,
Nem se cresça, nem desapareça,
Nem se multiplique e me subtraia.

Vai ficar lá, todo inteiro,
Arrumando e desarrumando a mala,
Calando e descalando a fala,
Até que alguém lha pague a fiança,
Fiado e com desconfiança,
Te libertando para assombrar
Outros mundos com teu jeito assim.

Bicho solto dentro de mim.
Louco, revolto.

Bicho enfim.

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