segunda-feira, 25 de julho de 2011

O menino que morava no umbigo

Para João e Sofia

Era uma vez um menino
Que morava no próprio umbigo.
Brincava na vila, brincava na escola,
E tinha um monte de amigo.

Ele era, meio assim, peregrino.
Não tinha uma casa de fato.
Mochila prum lado e pro outro:
Seu umbigo, na verdade, eram quatro.

Um, da mãe Mariposa,
Outro, do pai Zé Barbudo.
Na quinta, era Vó Violeta,
Na sexta, era Vô Carrancudo.

E onde estivesse o menino,
Fosse domingo a domingo,
O mundo a sua volta girava,
E o ciúme sempre dormindo.

Até que um dia [surpresa!]
A coisa toda ficou diferente:
Tudo mudou no pedido
Que fez pra fada do dente.

O menino penou, e pediu:
- Fada, Fadoca, Fadinha!
Não quero um videogueime,
Quero é uma irmãzinha!

De pirata, ficou pensativo.
Serpentina deixou pra depois,
Quando ouviu o Zé Barbudo falando
Que o quarto dava pra dois.

E achou tudo muito esquisito,
Pois conversando no tal telefone,
Sua boadrasta Borboleta dizia
Que não tinha escolhido o nome.

Bem estava esperando presente,
Plantado, ficou no quintal,
Mas era primeiro de abril
A história do tal pré-natal.

Domingo, passeio no sítio:
Bola, estrela, piscina.
O Vô carrancudo dançava
E cantava que era menina.

O inverno tinha chegado,
E o menino estava pra briga:
O que tanto a Borboleta conversa
Falando com a própria barriga?

O frio ficou mais maldoso,
E o menino no quarto encolhido.
Enrolado na coberta, pensava:
- Estou correndo perigo.

No desgosto, o menino a crescer.
Calado, seu umbigo sofria.
Quando era forçado a dizer:
- Ela engoliu foi uma melancia!

As flores chegaram sorrindo,
E o menino, olhar curioso.
O silêncio da casa guardava
O que a fada trouxe de novo.

Menor que o menor pensamento,
O menino amou e ficou
Babando a borboletinha.
E, logo, do umbigo mudou.