quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mãe do Diabo

Saí correndo com a pontuda na mão e a trouxinha de gente pendurada no meu cicloandante cabuloso. A dupla de dois estava registrando alguns jovens inflados de primaveras cantando, enchendo a cara de cachaça e postergando para a história fútil da humanidade mais uma das futilidades que, por serem descompromissadas com os compromissos, tornam-se mais importantes do que os gritos de dependência fanha e as mortes de grandes territorialistas virtuoses. Estavam lá o bigode de óculos, as bailarinas lunáticas de luneta na mão (tentando a achar o foco e o enfoque), os três patetas, a moçatambor e um monte de figurantes desarrumados em cima da hora pela produtora do por acaso eu tava ali. Eu bem vi uma moça, cabelos longos e enrolados, blusa branca, olhos de fúria, jeito de cigana, sorriso sacana. Eu bem a vi perdida nas idéias, mas achada na confusão dos sistemas de registro. E ela não me viu. Ou, se me viu, não fez muito caso. Mas eu a vi e pensei: que moça bonita essa. Quero ela pra mim. E fui embora com a trouxinha de gente deixando a pontuda avisada: fure os painéis, rasgue as telas, arrebente com os cenários antes mesmo que eu possa encontrá-la novamente entrelaçada num rapazote caradecão em mais um desses becos imundos que a gente cisma de frequentar só pra ver se a vida nos puxa pra baixo da linha do inferno, onde nem o diabo costuma ir porque sua mãe não deixa. E lá encontrei ela de novo, mãe do diabo, cuspindo fogo para clarear as mentes nubladas da moral, arrepiada pelo toque do folem de campinagrande, empunhando um multiplicador de vozes e enchendo de inveja as demais mães, mães de bêbados, bandidos e defuntos, que cantavam incessantemente para tentar espantar um ou dois males que logravam suas mentes poluídas. Os cantos traziam elas para o plano dos jardins de flores, incautos, como o parto-ato da primeira masturbação jovem. Pois bem, com o olho no furacão vermelho, através de cantatas e conversas fiadas nos lugares de encontros e desencontros de espíritos mancebos, batendo platinelas, mesas e palmas, subimos ao cume do sobradoalbergue, fazendo a maior arruaça contida que já vi na vida, orgia com contrato, coito interrompido da farra, no qual, trajando minhas duas fantasias, dormi sossegado e agitado com a cabeça afundada no travesseiro do conflito. Nasceu o sol. Acordando árido, senti a memória dando bicos na minha cabeça que, sufocada, tentava arranjar um espaço qualquer para arrumar a bagunça das minhas imagens, sons e sentidos. Está tudo aí? Perguntava. Está? Perguntei. E nos demos conta de que, além da ingenuidade, perdemos também a vergonha e o aparelho de falar com pessoas imateriais. Toca pra descer, pra achar o aparelhinho que ninguém mais vive sem um. E acha o aparelhinho. Oi. Oi? Oi! Você trabalha na Oi? A comemoração se deu com um banho de sal e uma despedida forçada. Despedida fórceps.

Pintura

Me ama o que sou,
Me ama o que faço.
E eu te amo
Contorno, tinta e traço.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tanto

Tanto te gosto
Que com o móvel me enrosco
Esperando a fala tua.
E, se perdida ela emudece,
O meu tempo mais que cresce
Nessa vontade carnecrua.

Quero você agora.
Quero muito, tanto e nua.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Conversa Normal

Você. Minha panacéia.
Falta de estratégia.
Descompasso.
Desconsolo.
Mistério de Dona Milú.

Você. Minha vitóriarégia.
Filme de comédia.
Inexata.
Desmedida.
A primeira letra u.

Você. Minha rima fácil.
Força de combate.
Destemida.
Dostoievski.
O meu tofú.

sábado, 18 de julho de 2009

Mambo que Sambo

Oi, quer dançar comigo? Tudo bem, mas eu sou um travesti. (Silêncio). E aí? Quer dançar comigo?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rói que Dói

Vou já dormir com o Bujão,
Hoje ele está meio dodói.
Fica caidinho, querendo carinho.
Isso me rói, que rói...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gaza Comigo

Todo corpo traz uma,
Todo coletivo tem a sua:
Mulherbombadinamite.
Voltando da Lapa ou da labuta,
Virada ou no limite.
Desintegrará minha agonia
Num susto de arrebite.
Descompassará minha harmonia
Pela janela de sulfite.
Com um olho que ignora
E um outro que insiste.
E não haverá mais vontade e desejo.
Não restará tesão ou sina.
Porque todo corpo tem uma
E todo coletivo tem a sua:
Mulherbombapalestina.

sábado, 11 de julho de 2009

Fardo

Que este fardo eu não carregue. Nem negue, nem renegue. Nem prove, nem comprove. Nem cubra, nem descubra que o que me move engendra um gás de paralisia. O olho que segue, segue: é o mesmo que me vigia. O olho que me persegue, vele: é o mesmo que te denuncia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Bolsa Amarela

Lorelai ganhou uma bolsa,
Toda transada, curtida, da hora.
Um dia ela fugiu de casa,
Tomou um táxi e foi embora.

Triste, ficou chorando,
Não teve tempo nem pra despedida.
Lorelai se pendurava na bolsa
E a bolsa se pendurava na vida.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Toca-Sinal

O professor mora na hora.

domingo, 5 de julho de 2009

Micropoema de Quinta

No boteco meu, de quinta,
Cabracega é o melhor recado:
Não se espera, nem se avança,
E cada um no seu quadrado.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dom Dom

Isqueiro no galinheiro.
Fogo no puteiro.
Com uma nota de vinte
Eu vou até às seis e vinte...